Era uma vez um dia comum como os outros, o sol descia pelo horizonte, morceguinhos cantavam celebrando a chegada da noite. Como sempre, eu culpava os autores de romances pela maioria dos meus problemas emocionais. Os culpava por criarem personagens tão perfeitos que nenhum ser real teria chance em uma competição romântica.

Foi caminhando pela sala, na TV passava mais um clássico da disney, que eu percebi que todas as deficiências românticas da sociedade possuem uma origem muito mais antiga. As pessoas começam a ser aleijadas emocionalmente muito antes de sequer saberem ler. Muitas sofrem essa lavagem cerebral antes mesmo de terem dentes. O nome do vilão?

Contos de fadas.

Quem nunca ouviu a história de uma pobre donzela que dançou a noite inteira sobre sapatos de cristal? Vocês nunca ponderaram o quão masoquista essa pessoa é? Céus, os sapatinhos deveriam doer mais do que qualquer salto agulha apertado. Não me surpreende que a pobre coitada saiu correndo do baile. E o sapatinho que deixou para trás? Eu também não teria voltado para pegar.

E a outrazinha que virou escrava de 7 anões? Além de ajudar na casa, a branquela lá ainda tinha que dormir em caminhas que eram a metade do seu tamanho. Não é de se espantar que tenha tentado suicídio. Se fosse eu, também ficaria desesperada. Maçã envenenada com entrega a domicílio, e tem gente que acha que a bruxa era má.

Dessa história toda a mais sortuda é aquela dorminhoca, e nesse caso eu tenho eu tenho pena é do príncipe, imagina o bafo que alguém fica depois de cem anos sem escovar o dente? Não sei como ele também não pediu uma maçã depois disso.

Em mais uma dessas histórias de terror, que ironicamente eram contadas para nos fazer dormir, há uma que me choca bastante. Aquela cabeluda que ficou presa na torre. Vocês tem noção que ela foi trocada pelo pai pelo preço de uma mísera frutinha?

Em meio a todo o absurdo, surge até zoofilia. Você conseguiria se apaixonar por, por exemplo, um touro falante? Nem eu. Mas a Bela sim. Certo, a Fera era rica e tudo mais... Ah, e deu aquela biblioteca. Talvez se o touro tivesse me dado uma biblioteca...

Podemos observar na maioria dos contos de fada uma constante. Os pais. Quem trocou Rapunzel? Quem roubou a rosa? Quem casou com a madrasta má? Você acertou, foi o pai. Nesse caso, além de demonstrar o quão frágil é o caráter masculino, os contos de fadas também conseguem provocar certa desconfiança da figura paterna. E não vou nem comentar sobre o pai de João e Maria...

E você ouve isso quando ainda não tem idade para raciocinar direito! Como saber se o seu pai não vai te tocar por uma fruta qualquer? Como saber se ele não vai te abandonar em qualquer castelo com uma fera? Perturbador, não?

Por outro lado, também é sempre uma figura masculina que desfaz a confusão, o que demonstra traços extremamente machistas. Só não vamos esquecer que, até os tão aclamados príncipes encantados, um dia também se tornam pais.

Depois não sabemos o porquê dessa sociedade doentia. Não sabemos porque as garotas ficam alucinadas por vampiros que brilham(?)...

Sério, contos de fadas são perigosos, não é atoa que antigamente eram usados para instaurar medo. É verdade, já leram a versão antiga dessas histórias? Antes da disney transformá-las em fofos clássicos? Google it, agora.

E assim crescemos acreditando em príncipes, acreditando que um beijo pode significar ''felizes para sempre''. Até que descobrimos que o ''felizes para sempre'', já tem prazo de validade estipulado.